Nas Casa das Artes, em Vila Nova de Famalicão, no final de setembro, e logo a seguir, já em outubro, no Teatro Narciso Ferreira, em Riba de Ave, foi possível “avistar” o espetáculo A Liberdade a Passar Por Aqui. Tomou forma depois de muitas “experiências” ao longo do ano: o percurso criativo da constelação (que inclui o espetáculo mas também o Mural da História Comum, o Prelúdio Para a Liberdade e o PaPI-Opus 10) iniciou-se em janeiro e ao longo do ano houve residências, workshops e actividades de formação que alimentaram a nossa imaginação e ajudaram a construir uma “biblioteca de referências do corpo” que complementa uma outra, mais vasta, resultante de uma pesquisa genérica (filosófica, poética, artística). Chamamos-lhe “referências do corpo” não porque se tratem de experiências exclusivas de movimento mas porque se encontram “inscritas” na vivência conjunta e “encorporada” das várias pessoas que participaram nesses “laboratórios” onde decorreram as experiências. O olhar atento de quem acompanhou de perto o processo criativo reconhecerá “camadas”, “referências”, “tramas e fios duma tapeçaria” na sequência dos quadros performativos do espetáculo mas essa não é certamente uma condição para que se possa “entender” a peça. Nem sequer existe uma intenção para que a A Liberdade a Passar Por Aqui requeira “entendimento”: é bom que deixe algumas questões, que seja uma experiência que possa perdurar para lá do “espaço-tempo” da performance, mas é nesse mesmo “espaço-tempo” que se pretende que se estabeleça uma relação “visceral” entre todos (artistas, público e todos os “personagens imaginários” que a peça convoca). Acreditamos que foi isso que aconteceu em Famalicão e Riba de Ave e que a Liberdade passou por ali, deixando ressonâncias em adultos e crianças pequenas.