O Gato das Notas, a primeira produção da CMT, estreada na Expo-98, é uma transfiguração musical da fábula “O Gato das Botas”. Emendou-se o destino dos personagens, deu-se-lhes vida musical e criou-se uma nova história com vestes teatrais.
A obra foi concebida a pensar nas crianças, que são maiores e vacinadas quando são tratadas como tal. Portanto, o seu possível valor pedagógico é especialmente relevante para os adultos que conservam a criança dentro de si. Aqui há Gato, ou este não fosse um soprano-fanhoso, espécie declaradamente em vias de extinção, para o que muito contribuem os vocalizos ao domicílio da Professora Cotovia, devidamente acolitada por um Galo. Mas, atenção, antes da pele deste Gato estar a salvo, o Marquês de Malabares há-de desafiá-lo para um duelo e para um dueto, há-de persegui-lo e cantar-lhe árias. Em momentos de suspense e aventura, este Gato em apuros parodia aulas de canto lírico e pede ajuda aos Senhores da Flauta e do Contrabaixo usando artimanhas de swing e ragtime. Não faltam também momentos de magia: a princesa Tafú desperta da sua letargia profunda, entoando, baralhada, excertos de poemas que foram usados por Mahler, Strauss e Schubert. Pelo meio vão ficando citações musicais da “Marcha Turca” de Mozart, do “Atirei o pau ao gato”, música de cabaret, rap, algum absurdo-musical e outras incursões étnicas.. No final, Gato, Marquês, Princesa e Rei fundem as suas vozes e miam para sempre. Enfim, todos se salvam e dançam ao ritmo do Samba Gático.