A investigação é uma ideia estruturante do trabalho da CMT. A relação que temos com o mundo académico potencia abordar questões que emergem da natureza artística transversal do nosso trabalho, bem como da relação com a educação e a comunidade. A constante procura de ideias e a reflexão sobre o que fazemos é inerente à nossa atividade regular de criação ou de intervenção social e educativa mas reflete também uma vontade de sermos um projecto em permanente evolução. Além dessa actividade regular promovemos atividades exploratórias que nos ajudam a descobrir qual o caminho a seguir numa fase posterior que poderá vir a levar a uma criação, projeto comunitário ou outro qualquer “compromisso” com um assunto ou ideia. A essas iniciativas, não públicas, internas, chamamos LabX. Por outro lado promovemos também a partilha pública de experiências quando estamos ainda numa fase de procura de caminhos ou de ideias que sabemos serem efémeras e circunstanciais. A essas iniciativas chamamos OutLabs.
A ideia de Lab, “laboratório”, de recorte num espaço/tempo de descoberta e exploração contribui para a existência dum equilíbrio entre o pensamento divergente que é necessário para inovar e a necessidade de tomar decisões fundamentadas e objectivas a determinada altura. Investigar significa ir à procura, querer saber mais, aprender a fazer diferente, interrogar, inquirir, indagar. Experimentar. Os Lab X são processos exploratórios que nos dão pistas sobre linguagens expressivas, tecnologias ou relações com artistas a explorar no futuro Emanam de propostas autónomas do “core-team” da CMT e, em 2’024, procuraram abordar questões relacionadas com presença remota, aprofundamento das relações entre arte e ciência, voz/movimento e canto colectivo.
O LabX2 decorreu no Observatório Geofisíco e Astronómico da Universidade de Coimbra (OGA-UC), um lugar único e inspirador,:um conjunto de edifícios que “respiram história” instalados no meio dum espaço verde no topo duma colina que resiste, frágil, à invasão do betão e onde a brisa nos faz pensar sobre a passagem do tempo.. Entre as estruturas arquitectónicas inicialmente pensadas para a investigação astronómica e e geofísica encontra-se um Planetário, usado sobretudo para sessões de divulgação de astronomia dirigidas a escolas, mas também para o público geral. O trabalho de físicos e astrónomos torna-se palpável e acessível a todos e isso contribui, certamente, para um melhor entendimento de quem somos e do lugar (pequenino) que habitamos no Universo. Muito pequenino. Ao abrir as portas à possibilidade da investigação artística o Planetário amplia o “céu” que é suposto dar a conhecer:. Mais do que tentativas de “explicação ou representação do real” a investigação artística procura criar “mundos imaginários” onde os sentidos se ampliam e se nutre o espanto. Para um artista, sair da sala de concerto ou espetáculos e entrar num espaço onde a relação com o som e a imagem é profundamente imersiva é um desafio interessantíssimo, sobretudo se o seu papel for o de comunicar com outros e reagir, em tempo real, ao que o espaço “devolve” a partir dos gestos sonoros e imagéticos que emanam dessa relação. A performance ao vivo é um acto de conexão com quem se partilha o espaço e a janela de tempo. Pode ser mais ou menos explícita, planeada e deliberada, mas é sempre um acto de “escuta profunda”, sobretudo se não existir um “guião” fixo, por exemplo uma partitura, apenas um “mapa” que precisa de ser habitado para se tornar tangível.
Procurar nas imagens da ciência o ponto de partida para a criação artística é algo que atravessa a história da arte há séculos. Um planetário permite “imaginar” mais longe, sobretudo quando a tecnologia: abre a “janela alquímica” que permite o céu transmutar-se em água, o gelo em nuvens, os pássaros em cardumes de peixes, a lava em sangue, as palavras em traços, as mãos em asas, tudo isto ou nada disto. Vislumbres do “real” e das suas “escapadas” quando se transforma um par de mãos num fractal ou num qualquer outro padrão matemático que nos fascina sem que percebamos muito bem porquê. O som, a música para ser mais exato, é uma parte importantíssima da experiência e talvez a principal responsável pelo “imaginar” que acontece neste tipo de experiências. È contraditório que se use a palavra “imaginar” para falar daquilo que acontece quando, de facto, perdemos a noção da imagem e passamos a um outro estado cognitivo em que a audição e a visão se fundem e nos deixamos transportar para territórios onde “perdemos o pé”. Essa possibilidade de “descolar do quotidiano” é no fundo aquilo que, na raíz, se pode designar de “transcendência”., uma palavra demasiado impregnada de sentidos, mas que simplesmente se refere aquilo que todos os seres humanos aspiram: voar. Haverá certamente várias formas de pensar para que serve um planetário. Para nós serve para ver o Céu. E sentirmos que somos parte do Universo.