O Céu por Cima de Cá estreou na Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão a 19 e 20 de setembro, na sequência duma residência criativa em que se usou a plataforma Zoom para acolher diariamente nos “bastidores” a comunidade do município, que assim pôde acompanhar o processo de criação e preparação da nova peça. O Céu Por Cima de Cá tem um formato invulgar: a peça pôde ser vista no espaço onde foi apresentada (o Auditório da Casa das Artes) mas também através do Zoom, numa abordagem que privilegia um olhar muito diferente do primeiro, quase uma outra peça.

O que se passa no céu é um mistério. Nuvens, pássaros e anjos deambulam livremente num espaço sem limites, intangível, volátil e sem forma, mas ao mesmo tempo único onde quer que exista:  o céu por cima de cada local reflecte a paisagem, os sons, as histórias e os desejos e de quem o habita. O Céu Por Cima de Cá é uma proposta artística que procura construir um espaço imaginário onde o tempo actual e o passado se confundem, o espaço real e o virtual se interligam, o quotidiano e a arte se cruzam. Um “céu” habitado por personagens movidos a música e movimento, capazes de falar a linguagem dos pássaros e dos anjos, mas sobretudo os múltiplos dialectos, formas, cores e sons com que se pode dar asas à poesia. Imagens recolhidas em processos de interação dos personagens com o local (num registo de performance no espaço público) coabitam com registos de filmes e documentários antigos,  há pássaros que crescem na ponta dos dedos, nuvens de sons que deambulam por locais e tempos improváveis, algum humor e ironia quando se abordam questões mal-resolvidas que todos os humanos têm quando pensam no que paira acima do que as suas mãos alcançam. A obra artística final é uma performance de música-teatral, um “tratado poético” profundamente inspirado pela biografia de cada lugar, pelo chamamento da terra e dos seus habitantes. Uma viagem guiada por pássaros, anjos e nuvens que atravessam os territórios da poesia, da música, da imagem e do movimento sem parar nas fronteiras.  Misteriosa, como tudo o que se passa no céu. Mas que se pode sentir no palco, ou em casa, uma vez que a performance, interativa, ocorre também através da plataforma Zoom. Um desafio que dá continuidade ao trabalho local de pesquisa e recolha e que pretende continuar a dar asas aos pássaros imaginários que se avistaram. Aos sonhos e desejos de todos os que a imaginação e as mãos fazem voar.