A meio da Viagem

O projeto Deep Listening Deep Sea(ing) tem-nos levado mais longe, mais fundo, mais alto, mais perto. Ouvir de viva voz os cientistas que estudam o Mar Profundo tem sido uma experiência muito interessante para os artistas envolvidos e ficou provado que é também uma experiência marcante para as crianças e adolescentes que o projeto tem alcançado.

O que “é” o mar profundo, o que se sabe, o que não se sabe, a importância que tem, os mistérios que ainda não se desvendaram, os relatos pessoais das experiências em missões de investigação em circunstâncias muito peculiares, tudo isso é fascinante e poder ouvir as “histórias” de quem “vive” o mar profundo  é uma oportunidade única.

Acreditamos, também, que a criação artística vivida pelas mesmas crianças e adolescentes desperta a consciência para a importância do oceano profundo e pode ser uma forma de contribuir para que sejamos todos mais sensíveis, mais informados. O “território” da arte é obviamente o da possibilidade de imaginar, de dar asas à criatividade, e nesse sentido o mar profundo é e será sempre “infinito”, por muito que a ciência nos desvende alguns dos seus mistérios. É talvez por isso que a criação artística pode ser também um estímulo para os cientistas: porque os deixará inquietos, incompletos, com vontade de questionar, por um lado, mas também mais dispostos para compreender que uma das razões pelas quais fazem o seu trabalho é porque ele é intrinsecamente “belo” e “ético”.

Há, assim, muitas pessoas para quem o Deep Listening Deep Sea(ing)  certamente deixará algumas ressonâncias. Mas as crianças e adolescentes são o foco principal, porque é com elas que desenvolvemos as experiências artísticas do projeto e é nelas e nas pessoas da sua geração que depositamos a esperança de que o futuro possa continuar a existir. Para além daquelas com quem trabalhámos diretamente em Marvão, na Missão Mar Profundo #1, e em Aveiro, na Missão Mar Profundo #2, gostaríamos que outras pudessem também passar por experiências idênticas. Ou que vissem o trabalho realizado pelas primeiras. Ou que essas possam continuar a imaginar o “seu mar profundo”, a construir as suas “cartografias imaginárias” tendo como base as sonoridades do Pianoscópio e as imagens recolhidas nas expedições científicas realizadas pelos nossos parceiros. E é por isso que divulgamos neste artigo um conjunto amplo de recursos que serviu de base às criações realizadas em Marvão e Aveiro, mas também as criações que surgiram, feitas por crianças e adolescentes a partir desses recursos, usando algumas ferramentas simples que explicaremos também.

 

Sobre Recursos e as Criações que deles resultaram

A pasta Deep Listening Deep Sea(ing) é o repositório de ambos, e encontra-se dividida em duas pastas, uma que diz respeito aos Recursos, isto é, os materiais de base a partir dos quais se constroem as experiências artísticas, e uma outra que diz respeito às Criações, isto é, os, produtos ou resultados a que as crianças e adolescentes chegaram. Cada uma destas sub-divide-se da forma que explicaremos a seguir.

Tivemos acesso a um conjunto de imagens recolhidas pelos nossos parceiros em missões de exploração do mar profundo na Noruega e em  Portugal. São imagens captadas por submarinos não tripulados, que conseguem determinar com precisão a profundidade e localização a que a operação se desenrola e que possuem braços robóticos que permitem também recolher amostras biológicas e geológicas. Esses veículos (ROVs)  são operados a partir dum navio e grande parte do tempo dos cientistas é passado a “observar” as imagens que chegam. O fundo do mar é vasto  e estes registos são também muito vastos.

Uma primeira tarefa que a nossa equipa fez foi a de seleccionar alguns excertos de forma a que criar “trechos” diversificados, “apelativos”, às vezes “paisagens” outras vezes “narrativas”, com uma duração compatível com as atividades de “sonorização” que viriam a ser propostas às crianças e adolescentes que viessem a participar na Missão Mar Profundo. Esses excertos encontram-se na pasta Imagens em movimento. São imagens sem som (os ROVs não recolhem som) e serviram de ponto de partida ou inspiração para actividades de criação sonora (no Pianoscópio, na Missão Mar Profundo #1 ) ou para atividades de sonorização de vídeos (na Fábrica da Ciência na Missão Mar Profundo #2). A partir destas imagens criámos um conjunto de Imagens estáticas (frames dos vídeos originais) porque a Missão Mar Profundo #2 assim o requer, como explicaremos mais à frente. Nos Recursos incluem-se ainda um conjunto de Sons criados no Pianoscópio, alguns em Aveiro (aquando da passagem do Pianoscópio pela Fábrica da Ciência) outros em Marvão durante a Missão Mar Profundo #1. A ideia é que sejam um conjunto eclético de “gestos sonoros” originais que possam ser usados como “blocos” quer na criação de composições puramente sonoras (isto é, sem relação com imagem) quer na criação audiovisual (isto é, procurando criar relações com imagens estáticas ou em movimento).

A Missão Mar Profundo #1, realizada no Pianoscópio, em Marvão tinha como objectivo principal a criação sonora. Após terem conhecido a bióloga marinha Ana Hilário e presenciado uma palestra sobre sua área de trabalho, o mar profundo, as alunos do Agrupamento de Escolas de Marvão, visitaram o Pianoscópio, exploraram os recursos existentes, gravaram alguns “gestos sonoros” de base e criaram as suas próprias composições que executaram e gravaram.  A pasta Sons mencionada atrás é em grande parte constituída por esses elementos de base, enquanto que a pasta Composições Sonoras, na pasta Criações, é o conjunto de obras produzidas nessa Missão. Este conjunto de “obras finalizadas” pode também ser acedido através do SoundCloud.

 

Ao contrário da Missão Mar Profundo #1, a Missão Mar Profundo #2 tinha como ponto de partida a criação digital. A partir dos Sons e também das Composições Sonoras criadas em Marvão, os adolescentes de Aveiro eram desafiados a gerar diferentes tipos de relação com as Imagens em movimento e com as Imagens estáticas. No primeiro caso trabalhando com um software básico de edição de vídeo (OpenShot) tomando decisões quanto ao conteúdo das imagens e dos sons, ou seja, produzindo Vídeos, também na pasta Criações (bem como na galeria deste artigo).

Uma outra proposta partia do PolisPhone, o software criado por Filipe Lopes e que permite criar “mapas sonoros” interactivos. Ou seja, em vez de se criarem relações fixas ou fechadas entre som e imagem pretende-se criar um “instrumento” que permita, em tempo real, a criação por parte do utilizador. A natureza da aplicação (inicialmente desenvolvida para permitir explorar o conceito de “paisagem sonora”) fez com que fossem escolhidas algumas imagens evocativas de “paisagens do fundo do mar”. A pasta PolisPhones contém os trabalhos criados na Missão Mar Profundo #2. Para poderem ser executados é necessário aceder à página da constelação Deep Listening Deep Sea(ing).

 

Um convite para que a Viagem continue

Construir PolisPhones é muito fácil e esse é o desafio ou convite que deixamos a todos os que queiram “viajar” pelo mar profundo: usar uma imagem (por exemplo da pasta Imagens estáticas ou um desenho ou pintura duma paisagem imaginada) e inventar os sons que ela “revela” quando se procuram (por exemplo usando faixas da pasta Composições Sonoras, ou Sons, ou quaisquer outros que a imaginação leve a produzir ou encontrar), criando assim uma “cartografia sonora imaginária”.