O ponto de partida de NOAH é a história que a nossa cultura nos contou, a mesma da Arca de Noé: um mundo em desmoronamento devido à ação do Homem. Mais que tudo, NOAH é um manifesto, um apelo à consciência coletiva.

A ideia dum dilúvio que extinguiu a vida na Terra, e deu origem a um novo recomeço, está presente em mitos de várias culturas e provavelmente dá corpo a interrogações fundamentais sobre a existência do Homem na Terra, sobre a sua relação com os seres humanos e com todos os seres que o rodeiam.

As palavras de NOAH são fortes, poéticas, às vezes humoradas e filosóficas mas soam sempre a música. NOAH é uma espécie de “opera-rap” , uma peça de música, teatro, dança e arte digital. Baseia-se no trabalho criativo da CMT-Kids, espelhando a “voz” de cada uma das crianças/adolescentes envolvidas no projeto.

0 “dilúvio” deixou recentemente de ser uma “história” e passou a ser um “assunto”, mas talvez seja essa a função das histórias: fazer-nos pensar sobre as questões filosóficas da nossa existência, preparar-nos para o futuro. NOAH é um espectáculo em que a música, o teatro, a dança e a imagem contribuem para o desenrolar duma narrativa que nos chama a atenção para a fragilidade do mundo em que vivemos. Revela-nos a origem da Música como uma invenção, para que os dias longos de convivência forçada entre seres que não tinham uma língua comum se tornassem numa viagem de descoberta do outro. NOAH tem um final feliz; continua a haver, como em “An die Musik”, a esperança de que a Música nos aponte um mundo melhor. Não obstante, NOAH diz-nos de forma clara que a história de que fala está, de facto, a acontecer e terá um desfecho que depende de nós.

O portfolio da CMT é constituído sobretudo por peças que se baseiam em sequências de quadros-performativos, alguns totalmente abstratos, outros com pequenas histórias que emergem temporariamente para depois desaparecerem. Em NOAH existe uma narrativa clara mas continua a haver uma fluidez e uma forma fragmentada de a fazer evoluir (os personagens são temporários e podem ser várias coisas ao longo da peça). Do ponto de vista musical, NOAH propõe uma viagem por vários territórios e sonoridades, revelando a Arca enquanto metáfora da convivência e da diversidade. Violoncelo, flautas, saxofone, tambores de metal, sintetizadores, vozes de glaciares e de pessoas são alguns dos recursos sonoros utilizados. O discurso musical faz-nos navegar por vários dos “dialetos” de que a Música é feita.