O projeto Deep Listening Deep Sea(ing) criará experiências artísticas que contribuem para a consciência da importância do oceano profundo. E não só.
O oceano é essencial para a vida na Terra, influencia o clima e o tempo, sustenta uma elevada densidade de vida e suporta uma enorme biodiversidade, conecta a população humana. Conhecemos relativamente bem a sua superfície, porque a vemos e usamos frequentemente, mas o oceano tem uma profundidade média de 4 200 metros e os processos físicos, químicos e biológicos que ocorrem no oceano profundo (a partir dos 200m) são críticos para a vida na Terra. É amplamente inexplorado e poucas pessoas estão conscientes da sua importância. A maioria de nós está familiarizada com uma lista de danos causados nas águas costeiras (pesca excessiva, derrames de petróleo, acumulação de plástico, poluição química e sonora) mas desconhece a forma como eles se repercutem muito abaixo da superfície. E a corrida aos recursos minerais do oceano profundo poderá causar danos ainda mais graves, sem que tenha havido tempo, sequer, para conhecermos o que o oceano profundo contém.
Desvendar os mistérios do reino do mar profundo é um desafio para a comunidade científica, mas passar essa informação ao público em geral, em particular aos adolescentes, ajudará a desenvolver o pensamento crítico: uma ferramenta poderosa para mudar atitudes.
O projecto Deep Listening Deep Sea(ing) desafiará adolescentes a imaginar e criar paisagens sonoras que possam acompanhar imagens do oceano profundo recolhidas em missões científicas. Para tal, irão utilizar o Pianoscópio, uma instalação interativa contemporânea que transforma o piano num instrumento coletivo que permite criar uma variedade imensa de sons. A Viagem ao mar profundo inicia-se com uma conferência por uma cientista e continua com workshops de criação musical/audiovisual orientados por artistas multidisciplinares. O contacto com “personagens reais” destes dois mundos aparentemente distintos é um aspeto importante do projeto e é possível que a Viagem nunca acabe para quem vier a embarcar: interrogar, experimentar, descobrir, imaginar são coisas que ficam connosco e que nos levam a muitos lugares.
O título deste projeto refere o conceito de “Deep Listening” (escuta profunda), desenvolvido pela compositora Pauline Oliveros, que cultiva uma maior consciência do ambiente sonoro que nos rodeia e da forma como ouvimos, ignoramos ou prestamos atenção ao que se passa à nossa volta. O desenvolvimento da escuta profunda assenta na experimentação, improvisação, colaboração, ludicidade e outras questões criativas vitais para o crescimento pessoal e comunitário. A nossa intenção é estimular emoções que são uma parte essencial do desenvolvimento de conexões verdadeiras e da mudança de comportamentos. O Mar Profundo tem, portanto, também um sentido metafórico que aponta para a descoberta de nós próprios e uma maior consciência do mundo que nos rodeia.