Em silêncio começou o trabalho, numa exploração interior e autónoma. No início, trocas de olhares e sorrisos, mais tarde, um grupo unido em busca de um trabalho de criatividade conjunto. No espaço, um cenário com poemas, telas e novelos que caíam do teto transformavam as quatro paredes brancas num imaginário próprio.

Houve sessões sem palavras, onde os gestos se tornaram linguagem. Letras e nomes começaram a ser desenhados pelos corpos, em todos os lugares. Noutro dia, formas de todas as cores tomaram lugar numa grande folha vazia que dali a pouco se inundava de significado. Passámos do corpo para a voz, numa escuta ativa e colaborativa.

No meio do universo dos pássaros, surgiu lugar para a poesia, poesia de Eugénio de Andrade. As vozes ecoavam no espaço. Sílabas, consoantes, palavras e frases jogavam à apanhada. No fim do dia, a música e o som adormeciam em conjunto.

Às vezes, havia espaço para refletirmos sobre o que tínhamos vivido. “Quero procurar a criança em mim e deixá-la viver” ou “Quem tenta voar arrisca-se a conseguir” são alguns dos pensamentos de quem viveu esta experiência na primeira pessoa.

Para além do trabalho de criação, assistimos a conferências sobre o trabalho da CMT, sobre o trabalho de Edwin Gordon e sobre as reações emocionais dos bebés num espetáculo. No fundo, a aprendizagem de conceitos teóricos e práticos sobre a intervenção na primeira infância.

No i.Lab Mil Pássaros, que decorreu de 31 de Julho a 5 de Agosto em Loulé, um grupo de músicos, educadores, entusiastas e tanto mais desenvolveu um trabalho intenso e colaborativo que culminou numa performance final dirigida a famílias com bebés e crianças.

Mariana Caldeira Pinto