O historial de cooperação entre a Companhia de Música Teatral e a Casa das Artes de Famalicão remonta praticamente à fundação de ambas, há já mais de duas décadas.

É especialmente emblemático o aprofundamento da relação entre entidades com os projetos Opus Tutti e Germinarte que, através de modelos inovadores de formação de profissionais e de intervenção junto da comunidade escolar, implementaram um conjunto de boas práticas artísticas para a infância e a intervenção educativa na envolvente do Município.

Tendo, na prática, iniciado a sua atividade com a encomenda de O Gato das Notas para a Expo 98, a Companhia de Música Teatral (CMT) constituiu-se formalmente como cooperativa com fins recreativos e culturais em 1999 pelos seus membros-fundadores que, na sua maioria, são naturais do concelho de Vila Nova de Famalicão. A cumplicidade geográfica com a Casa das Artes e o nascimento quase simultâneo de ambas as entidades levaram a que os seus percursos se tenham cruzado diversas vezes perante objetivos semelhantes. Desde o início, a Casa das Artes abriu as portas às criações da CMT: entre outras, as obras Andakibebé, BebéPlimPlim, AliBaBach, Patrulha, MNF, Grande Bichofonia, Cyberlieder, Babelim deram aí os seus primeiros passos.

Assim se estabeleceu o contexto estável de criação e desenvolvimento de ideias que se tem alargado a outras entidades da envolvente. As escolas e, em geral, toda a comunidade educativa foram desde cedo envolvidos e transportados para o interior da relação que resultou na origem das Pontes de PaPI. A atividade tem-se estendido a outras áreas, nomeadamente com o Ambiente, havendo também um percurso significativo com o Parque da Devesa. Seguimos em constante exploração de novos rumos com outras entidades do concelho que vive um momento de crescimento artístico e consolidação do enorme potencial cultural.

 

Marcos de Cooperação

Um Berço de Criação

A Casa das Artes tem sido um parceiro fundamental em diversas co-produções e em particular no acolhimento das residências artísticas que materializam os projectos.

Desta parceria resultaram co-produções como: Anatomia do Piano (2012) em Co-produção com Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão. Um espectáculo que propõe a desconstrução do piano, um instrumento que será talvez o mais influente da história da música ocidental. NOAH (2017) em Co-produção com Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão | Cineteatro Alba | Teatro Aveirense. Um espectáculo que chama a atenção para a fragilidade do mundo em que vivemos. O Céu por Cima de Cá (2020),  em Co-produção com Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão. Uma proposta artística que procura construir um espaço imaginário onde o tempo atual e o passado se (con)fundem, o espaço real e o virtual se interligam, o quotidiano e a arte se cruzam. Aguário (2021) em Co-produção com Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão. Um conjunto de “poemas performativos” onde as múltiplas vozes da água e dos seres que nela habitam se misturam com o piano, a voz humana, o corpo e o movimento, a projeção de imagem e os objectos cénicos. A Canção da Terra (2022) em Co-produção com Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão | Cineteatro Alba | Município de Lagoa. Um espectáculo que se inspira na ideia de que o Planeta tem uma “voz” e traz para o discurso artístico a preocupação com a nossa relação com o Mundo que habitamos.

No Parque da Devesa, as árvores que tombaram no Inverno de 2016 renasceram transformadas pela Música. A convite do Parque da Devesa afinámos os nossos sentidos pela reverberação do Parque e desse trabalho resultou a escultura sonora Metamorfose, uma proposta artística que pretende possibilitar um diálogo sonoro e visual e que continua a ressoar, todos os anos.

 

Pontes de PaPI

Pontes de PaPI é um modelo de atuação nascido no âmbito do projecto Opus Tutti que pretende estreitar a relação com as comunidades e públicos locais, destinado às instituições culturais que desempenham um papel fundamental na relação com a Arte. É um incentivo à promoção do modelo de articulação entre apresentações de qualidade em espaços como teatros e instituições culturais e o desenvolvimento de repercussões noutros ambientes como creches e jardins de infância, através da criação de peças de música-teatral caracterizadas por grande portabilidade. PaPI (Peça a Peça Itinerante) é a designação colectiva do conjunto de pequenas peças músico-teatrais (Opus) dirigidas à primeira infância. As peças são apresentadas de forma articulada em ambos os espaços (teatro e creche) e o impacto da iniciativa é alargado através de um conjunto de estratégias de consolidação da ponte entre ambos os mundos. Crianças, pais e profissionais são ativamente envolvidos nestas ações, interpretadas como uma extensão da instituição cultural no interior do estabelecimento de ensino.

A Casa das Artes de Vila Nova de Famalicão foi pioneira na construção das Pontes de PaPI, tendo criado condições para a circulação de uma grande parte das peças do ciclo. Adotou, pois, logo desde o início este modelo de itinerância, ajudando a disseminar a ideia de que a primeira infância e a infância merecem o melhor do mundo. A construção de uma ponte global é um processo contínuo e com lugar para todos os parceiros que pretendam assinalar de forma determinante o seu impacto na comunidade.

 

Ninho de Mil Pássaros

A constelação Mil Pássaros, nasceu a partir de Orizuro, obra esta realizada em co-produção com a Casa das Artes. Prossegue o percurso iniciado em 2011 em Opus Tutti e Germinarte (projetos estes apoiados pela Fundação Calouste Gulbenkian) em que, através de modelos inovadores de formação de profissionais e de intervenção junto da comunidade escolar, se implementou um conjunto de boas práticas artísticas para a infância aprofundando a relação entre a Companhia de Música Teatral, a Casa das Artes e a intervenção educativa na envolvente do Município.

Procurando sensibilizar para questões ambientais, para a necessidade de cuidado com os outros e com o planeta, Mil Pássaros é um projeto global tratando de questões que não conhecem fronteiras e que urge abordar desde a primeira infância. Integrando várias vertentes de atuação de natureza artística e educativa, visa promover experiências musicais e artísticas extensivas a toda a comunidade, procurando promover o diálogo entre famílias e estabelecer bases educativas para resultados a longo prazo.

O projeto desenvolve-se através de um modelo de trabalho na comunidade com várias vertentes e recorre a uma ampla gama de propostas de atividade que incluem formações, workshops, atividades autónomas ou em grupo, atividades online, publicações, espetáculos concebidos para escolas, espetáculos concebidos para teatros, Instalações, Conferências e permanece em evolução contínua.

O sucesso inicial do projecto no ano de 2018 ditou a sua continuidade e alargamento no ano seguinte. Também em 2020, no contexto da pandemia de Covid-19 e confinamento da população, surge a ideia de levar o projeto à casa de todas as famílias e transformar Vila Nova de Famalicão numa Cidade Orizuro.

Ainda em contexto Covid-19 e com o apoio do programa Garantir Cultura do Ministério da Cultura, em 2021-22  e em parceria com a Casa das Artes e o Parque da Devesa, e em estreita colaboração com a Divisão Municipal da Cultura e Turismo, desenvolvemos o projecto Jardim Orizuro: Três ações de intervenção social e educativa dirigidas a públicos-alvo distintos, mediadas por práticas artísticas em instituições do concelho: o Centro Social Paroquial de Requião, o Jardim de Infância de Seide e o Centro Social da Paróquia de Castelões.

O rumo de Mil Pássaros continua a ser escrito tendo sido também já implementado em 2020 pela Lisboa – Capital Verde Europeia 2020, no Município de Loulé em 2021 e no Bairro Padre Cruz em 2022. As componentes performativas também já passaram de forma autónoma por locais como Paredes de Coura, Fundão, Santarém, Évora, Noruega e Brasil. A formação online conta também com uma edição em Portugal e outra no Brasil e a formação Imersiva i.Lab Mil Pássaros tem sido realizada anualmente em Loulé desde 2020. Mil Pássaros está também na base da participação da CMT no projecto SenseSquare, apoiado pelo programa ERASMUS+.

 

Um Olhar para o Futuro

O relacionamento com o Município de Vila Nova de Famalicão, que existe desde o início da CMT, tem permitido não só a estreia regular de novas criações no palco da Casa das Artes mas também a realização de projetos na envolvente e noutros espaços como o Parque da Devesa. Encontram-se em gestação os projectos:

Cidade Orizuro (designação provisória) – 2023: A instalação Cidade Orizuro que criaremos na Casa do Território do Parque da Devesa permitirá tornar tangível e sensorial um conjunto de ideias que existem num plano mais abstrato ou disperso por várias iniciativas. Será construída a partir de memórias (sonoras e imagéticas) que servirão como ponto de partida para a reflexão e participação: uma cidade colorida e feliz, verde, onde todos os desejos podem ganhar asas.

NC23_Ornitópera (designação provisória) – 2023: Em co-produção com a Casa das Artes e o Teatro Aveirense é um espectáculo para bebés em que se olha a Música como uma ferramenta que promove a nossa relação com os outros e com o Planeta frágil que habitamos.

NC24_A Liberdade a passar por aqui (designação provisória) – 2024: Em co-produção com a Casa das Artes e outros parceiros a confirmar. O exercício de revisitar melodias, ritmos, palavras, ideias  e histórias que fazem parte da História, e que estão na memória dos mais velhos, e torná-los experiência artística multifacetada e livre, ambiente de fruição e partilha para eles e para os mais pequeninos é o desafio trazido por esta co-produção que envolverá outros parceiros estratégicos alinhados na ideia de que é essencial garantir que a liberdade está a passar por aqui.